CREPÚSCULO DA LEI – ANO VII – CCCXLIV
Há um livro do qual muito se fala e pouco se lê. Aliás, falta-lhe a leitura muito mais daqueles que o indicam como manual de aprendizado total, como lei única ou qualquer coisa do gênero, exatamente isso faltando a eles, limitados e impedidos cognitivamente de uma reflexão pertinente.
O que querem esses ignorantes do livro, que pode ser ensinado até como “manual de matança”, ao tentar sua obrigatoriedade nas escolas?
O livro em questão fala de um Deus que autorizou a morte do próprio filho, não sem antes permitir contra ele toda a sorte de torturas e violências. É nesse aspecto que o castigo ao filho se projeta na ideia de um “inimigo” para os aproveitadores, principalmente quando o filho do inimigo é, ainda, criança.
O livro “da matança” fala de ordens, determinações de morte de crianças abundantemente, em dezenas de “orientações”, como por exemplo, nas citações de 1 Samuel 15:2-3, Josué 6:21; Números 31:17-18; Ezequiel 5:10 e 9:5-6; Oséias13:16 e 9:11-16; Êxodo 12:29; Reis 2:23-24 e !5:16; Salmo 78:59-64 e 137:8-9; Isaías 13:15-18; Lamentações 2:20-21; Mateus 2:16; Deuteronômio 2:33-34 e 3:6; Jeremias 11:22, 19:9 e 44:7; Isaías 14:21; lamentações 4:10, e outras.
Essa matança (des)orientada é para ser ensinada? Essa carnificina é para ser discutida em sala de aula como referência obrigatória?
É por ela que tais pessoas querem criar o perigo do livro e divulgá-lo pela boca de ignorantes e aproveitadores que lidam com a legitimação a violência a todo dispor?
(…)
Veja-se. Aconteceu assim. Tudo gravado e filmado.
O bielorrusso Vladimir Vitikov, (31), cidadania israelense, sionista, deparou-se com uma criança de 1 ano e 6 meses, enquanto a mãe estava de costas, no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou. Ela havia chegado à Rússia com a mãe, após fugir do bombardeio no Irã. Ele, com um golpe rápido, tomou a criança para si, elevou-a com os braços por cima dos ombros e, com toda a força possível, atirou a criança verticalmente contra o solo do aeroporto.
Uma das cenas mais violentas de toda internet.
O fato aconteceu em 26 de junho.
A criança quedou inerte. Está em coma.
Qual fundamento? Ora, coincidentemente o tal livro ensina exatamente que, em relação aos inimigos, o Salmo 137:9, estabelecendo desta forma: “Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras.”
Conforme aqueles que EXIGEM o mencionado livro nas escolas, isto será ensinado aos alunos? O que estas pessoas, na realidade, pretendem?
Sem embargo, a fixação pela matança é tanta e tamanha que, em Gênesis 9:16, consta escrito que a divindade – aquela que entregou o filho para ser morto – colocou um arco-íris nas nuvens, como pacto de lembrança para nunca mais mandar outro dilúvio de extermínio de vida na terra. (?)
Enfim, se há falta de palavra ou de memória na criação, isto não cabe a intelectos notadamente limitados debaterem, principalmente à sua maneira grotesca. Daí, a pergunta persiste. O que querem tais pessoas com o livro da matança nas escolas?
Certamente, querem mais que dízimos e porte de armas.
Domingos Sávio Calixto é advogado criminalista, e professor de Direito Penal
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