Credo em cruz três vezes

Augusto Fidelis

Na noite de sábado para domingo tive um pesadelo horrível. Não comerei mais feijoada ante de me deitar. Só sei que eu estava na sede do Corpo de Bombeiros assistindo a uma solenidade. Justo na hora em que o Ten-Cel. Joselito de Paula fazia seu pronunciamento, um dos soldados foi até a uma viatura, que não se sabe como apareceu ali em meio às cadeiras, e ligou o rádio. Uma música triste encheu o ambiente e, logo em seguida, o locutor anunciou que eu havia morrido.

Os demais soldados deixaram a posição de sentido e vieram todos na minha direção, agarraram-me nos braços e nas pernas e puseram-me num caixão feito de pano roxo, com galões dourados. Protestei com veemência, pois acreditava merecer algo melhor. Ten-Cel. Joselito interveio junto a seus comandados e os lembrou que eu era um bombeiro honorário e deixava minha herança para a corporação. Então, providenciaram uma urna bem chique e eu me deitei.

Um grande cortejo, com os motoqueiros Tigres do Asfalto à frente, rumou-se em direção à Câmara Municipal. O presidente da Casa, vereador Israel Mendonça, mandou fechar a porta alegando que o plenário estava reservado para uma homenagem ao pessoal da Gerdau. Depois de muita discussão, o presidente cedeu. Parece que nem houve velório, já que logo depois uma procissão se formava rumo ao Santuário de Santo Antônio.

Nesse momento, alguém deu três toques na tampa da urna e me falou: o padre está criando caso; para ele, o número de músicos e coristas é grande demais e vai causar tumulto no presbitério. Ao que respondi: tire a tampa que vou dar um jeito nisso. Abriram, pus-me de pé e gritei com toda força: se as coisas não saírem como planejado, mando chamar Dom Giovane. A multidão me aplaudiu demoradamente. Logo ouvi sons de sinos ao longe. A banda da Política Militar e o povo entoaram o hino “Mil anos sejam dados ao nosso imperador”.

Sem mais nem menos, o evento que acontecia na Rua São Paulo mudou-se para o quintal da casa onde nasci e fui criado, na zona rural de Carmo da Mata. As poucas pessoas que ali estavam, furaram a sepultura, colocaram a urna, e jogavam terra. No entanto, em vez da terra cobrir o ataúde, passava para debaixo. Os coveiros desanimaram e foram embora. Levantei-me, saí do buraco e descobri que estava completamente sozinho. Pus-me a observar as jabuticabeiras em flor. De repente, apareceu uma mulher e eu a perguntei: Senhora, seria aqui o purgatório? Ela me respondeu: “Não, meu filho, aqui é a China, é campo de trabalho forçado”. Acordei em seguida e dei graças as Deus: estou vivo!

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