Ômar Souki

Eu perguntei para Davi, um menino de oito anos, que acompanhava o pai na catequese de crisma para adultos: “o que é pecado para você?”. Ele respondeu na lata: “é quando a gente mente para Deus”!. Concordei com ele, mas, ainda fiquei pensando na profundidade de sua resposta. Isso foi ontem e ainda estou meditando sobre essa questão. Ele poderia ter dito: “é quando a gente mente para os pais!”, ou ainda “é quando a gente mente para os professores!”, mas não, para Davi, pecado é quando a gente mente para Deus. Será que foi ele que, de fato, respondeu? Ou foi o Espírito Santo que lhe soprou essa resposta? Como algo tão profundo poderia ter sido elaborado por uma criança?

Não é possível mentir para Deus, pois ele é onipresente e onisciente. Mesmo assim, temos a ilusão de que podemos mentir para ele. Então, o que é mentir para Deus? É quando recusamos ser aquilo que realmente somos. Enfim, é quando não somos autênticos. Nossa identidade está esculpida nas Escrituras: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1, 27). “Vocês são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2, 9).

Todas as vezes que ignoramos essas verdades, estamos mentindo. E, mentindo para quem? Para nós mesmos, para o Sopro Divino que habita em nós, isto é, para o próprio Deus. E, quem é o pai da mentira? Jesus fala para os fariseus, que são mentirosos, quem é o pai deles: “O pai de vocês é o diabo, e vocês querem realizar o desejo do pai de vocês. […] Quando ele fala mentira, fala do que é dele, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8, 44).

Por outro lado, aquele que fala a verdade, isto é, o ser autêntico, é justamente aquele que já se libertou: “Se guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus discípulos; conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês” (João 8, 32). A verdade nos liberta das ilusões deste mundo e nos prepara para a vida eterna: “Eu garanto a vocês: se alguém guarda a minha palavra, jamais verá a morte” (João 8, 51).

 “A primeira qualidade que observamos quando olhamos nos olhos de uma criança é a inocência delas: é a adorável inabilidade que têm de mentir ou usar uma máscara ou de fingir ser algo diferente do que são. Nesse respeito, a criança é exatamente como o resto da natureza. […] Só um adulto pode ser uma coisa e fingir ser outra” (Anthony De Mello, Stop fixing yourself / Pare de consertar-se a si mesmo / p. 111).

O pequeno Davi, com sua desconcertante resposta a uma simples pergunta, abriu uma enorme janela para mim. Depois daquele inusitado encontro, a verdade—que antes era importante para mim—agora se transformou na própria essência de meu ser.

Compartilhe:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

DEIXE UM COMENTÁRIO