Divinópolis vive um momento crítico. A cidade registrou, apenas na última segunda-feira, 25, duas ocorrências que poderiam terminar em mais homicídios. De madrugada, um homem de 30 anos foi alvo de uma tentativa de assassinato no bairro Jardinópolis, escapando após correr para um matagal, enquanto sua casa era incendiada pelos criminosos. Já à noite, no Centro, a Polícia Militar baleou um suspeito de 24 anos que, segundo denúncias, circulava armado para executar uma vítima.
Os casos não são isolados. Divinópolis já contabiliza 30 homicídios apenas em 2025, — números que superam, com folga, todo o ano de 2024, quando foram registradas 23 mortes violentas. Ainda neste mês, há duas semanas, a cidade testemunhou uma tentativa brutal de feminicídio na comunidade do Choro, um homicídio a tiros próximo à linha férrea no bairro Alto São João de Deus e um assassinato marcado pela extrema crueldade, no São Luís, cometido a golpes de marreta. Tudo isso em um intervalo de apenas três dias.
Esses episódios revelam um cenário de banalização da violência. Jovens com passagens criminais, armas de fogo em circulação, execuções ligadas ao tráfico de drogas e crimes cometidos em plena luz do dia expõem a fragilidade do sistema de segurança. A reincidência é regra, não exceção. Muitos envolvidos já haviam cumprido pena ou acumulavam diversas passagens policiais, o que aponta para a incapacidade do Estado em romper o ciclo do crime.
A legislação brasileira é robusta no papel, mas falha na prática. O Estatuto do Desarmamento, as leis de execução penal e os mecanismos de endurecimento contra o crime organizado esbarram na falta de efetividade: armas circulam livremente, criminosos reincidem, a investigação não acompanha o ritmo da criminalidade e o Judiciário se mostra lento diante da escalada. O resultado é a sensação crescente de insegurança.
Especialistas lembram que a violência não nasce do nada. Ela é alimentada pela desigualdade social, pela falta de oportunidades e pela ausência de integração entre família, escola e Estado. Mas também é sustentada pela certeza de impunidade. Quando o criminoso acredita que pouco ou nada lhe acontecerá, a lei perde sua força de intimidação.
Divinópolis, assim como o Brasil, precisa reagir. A resposta deve ser múltipla: endurecimento das leis, aplicação ágil das medidas de segurança, fortalecimento das polícias e investimentos em políticas sociais que resgatem jovens do caminho do crime. Não se trata apenas de punir, mas de impedir que a criminalidade siga recrutando, cada vez mais cedo, novos executores. Nesse esforço, é impossível ignorar a realidade das forças de segurança em Minas, que lidam com efetivo reduzido, salários defasados e falta de estrutura — reflexo de anos de impasse entre governo e categoria. Sem valorização, a reação perde força antes mesmo de começar.
A escalada da violência não pode ser tratada como estatística. Por trás de cada número, há famílias destruídas, comunidades em luto e uma cidade que vê sua paz ruir. É hora de encarar que a crise da segurança pública não é um problema distante, restrito às capitais. Ela está aqui, entre nós, e exige respostas imediatas.
