EXCLUSIVO: Justiça mantém condenação de quadrilha que tentou trazer 1,5 tonelada de maconha para Divinópolis

STJ  e STF negam recursos dos envolvidos na operação “Jack Card”; droga saiu do Paraná escondida em caminhão clonado e foi interceptada em Piumhi

Da Redação

Uma carga de 1,5 tonelada de maconha com destino a Divinópolis foi apreendida pela Polícia Federal (PF) em conjunto com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), em 23 de maio de 2022, na MG-050, em Piumhi. A droga estava escondida em um caminhão-baú, carregado oficialmente com implementos agrícolas e caixas de produtos diversos.

A apreensão foi considerada uma das maiores já registradas no Centro-Oeste mineiro e deu início à operação “Jack Card”, que desarticulou uma quadrilha especializada em tráfico interestadual de drogas.

Como funcionava o esquema

Segundo a investigação, o caminhão foi carregado em Cascavel (PR) e tinha como destino final Divinópolis. O motorista, de 33 anos, morador da cidade, confessou que receberia pagamento para realizar o transporte.

O grupo também utilizava um “batedor”, em um veículo VW Santana branco, que seguia à frente do caminhão para alertar sobre barreiras policiais. O dono da carga, apontado como articulador da logística, também foi preso.

Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça mostraram a participação de outros integrantes no financiamento das viagens, no pagamento de despesas e até no registro de veículos usados no tráfico.

Prisões e julgamentos

A investigação resultou na  condenação de quatro acusados principais:

Eduardo Henrique Ferreira (“Cheiroso”) – motorista do caminhão.

Moacir Gonçalves Filho – apontado como batedor.

Jocimar Viana da Silva (“Jota”) – dono da droga e articulador da logística.

Maíza de Almeida Ribeiro – identificada como responsável por movimentações financeiras, pagamento de despesas e apoio logístico.

Todos foram processados por tráfico interestadual de drogas (art. 33 combinado com art. 40, V, da Lei 11.343/06) e associação para o tráfico (art. 35 da mesma lei).

As condenações foram fixadas em penas que variaram entre 8 e 10 anos de prisão em regime fechado, além de mais de 1.200 dias-multa.

Caminhão clonado e bens apreendidos

Durante as apurações, a PF descobriu que o caminhão-baú utilizado no transporte estava clonado. Como não foi possível identificar os sinais originais do veículo, a Justiça determinou seu envio a leilão público, para evitar depreciação.

Outros bens relacionados à quadrilha, como veículos e contas bancárias, também foram bloqueados, e os valores recolhidos repassados à União, por meio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).

Argumentos da defesa e recursos negados

As defesas tentaram anular as interceptações telefônicas, alegaram insuficiência de provas e pediram a aplicação do tráfico privilegiado, que poderia reduzir as penas. Também solicitaram a substituição das penas privativas de liberdade por medidas alternativas.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) rejeitou todos os pedidos, destacando que a quantidade de droga, 1,5 tonelada, e a associação estável ao crime impediam qualquer abrandamento e que a dedicação estável à atividade criminosa foi fator decisivo para negar qualquer redução de pena. O entendimento reforça a aplicação rígida da Lei de Drogas em casos de grande porte e de estrutura criminosa organizada.

Nova tentativa 

Os réus recorreram em 2025, os ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)  e ao  Supremo Tribunal Federal (STF) que foram rejeitados considerando que não caberia reexaminar provas já analisadas pela Justiça mineira. Não cabem mais recursos.

Com isso, as condenações foram mantidas em definitivo, e no dia 22 de setembro último, o processo foi remetido para a 1ª Vara Criminal da Comarca para dar início ao cumprimento de pena.

Impacto em Divinópolis

O caso revelou a importância de Divinópolis como ponto estratégico de distribuição de drogas no Centro-Oeste de Minas. A PF já havia identificado que o grupo tentou transportar outra carga de 700 quilos de maconha, interceptada meses antes em São Paulo.

Para as autoridades de segurança, a operação representou um golpe significativo no abastecimento da região. A apreensão histórica demonstrou a necessidade de ações conjuntas entre PF, PMRv e Ministério Público (MP), além da fiscalização intensiva nas rodovias que cortam o estado.

Situação atual dos réus

Os réus Eduardo, Moacir e Jocimar foram presos no início da operação e se encontram soltos. Com a confirmação da sentença e início de cumprimento de pena em regime fechado, a ré Maiza de Almeida Ribeiro, empresária divinopolitana do ramo de recreação infantil, que ao contrário dos outros não chegou a ser presa,  apresentou pedido de prisão domiciliar por ser mãe de duas crianças gêmeas de sete anos de idade. O pedido se encontra em análise. 

Linha dura contra o tráfico

A confirmação das condenações encerra um processo que se arrastava desde 2022 e reforça a posição da Justiça mineira de endurecer contra o tráfico de drogas  em pequena, média ou larga escala.

Para o Ministério Público, as decisões têm efeito pedagógico: mostram que rotas do tráfico interestadual estão sendo monitoradas e que, mesmo após anos de tramitação, os responsáveis não conseguem escapar da punição.

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