As águas começam a baixar no Rio Grande do Sul, expondo as perdas materiais. É hora de pensar no recomeço e na reconstrução. Mas, por onde? Diante das inúmeras perguntas que o momento impõe, a única certeza que se tem é das feridas abertas. Além do medo, do luto e das crises de pânico, o Brasil tem hoje mais um povo marcado pela negligência, pelas más gestões, pela corrupção e pela ganância.
De norte a sul, de leste a oeste, por todos os lados o que se encontram são brasileiros traumatizados, de uma forma ou de outra, pela política. Entre escombros e recomeços, o peso de carregar o Brasil nas costas recai sobre o ombro de cada um. O resultado das escolhas chega cada vez mais rápido e pesado. Os depoimentos comoventes estão por todos os lados, assim como aqueles que usam as tragédias para fazer politicagem e forjar a sensação do “agora vai” no coração de quem já está calejado e cansado de carregar nas costas o peso de ser brasileiro.
Hoje, milhares de pessoas se espalham em abrigos no Rio Grande do Sul. Em meio a doações, a voluntários, a socorristas, eles começam a pensar no árduo recomeço de suas vidas. E, enquanto as marcas se eternizam em suas almas, neste exato momento, tem um político aceitando propina, atrasando algum projeto importante, brincando de poder em seu gabinete com ar condicionado. O Brasil falhou. Como falhou. As chuvas passam, as águas baixam, mas as cicatrizes ficam. Assim como ficou para as vítimas dos deslizamentos de Petrópolis, de Brumadinho, de Mariana, para a mãe que perdeu a filha na UPA, para a mãe que morreu e deixou filhos por falta de atendimento adequado, para a família do homem que foi vítima de latrocínio pela segurança pública que falhou, para a criança que não teve acesso a uma educação de qualidade e não teve muitas alternativas na vida. A verdade é que todos os dias os brasileiros são marcados de alguma forma por essa política que não soma, não traz nada de novo, apenas suga, e traz consigo um peso enorme para os ombros de cada cidadão.
As tragédias que se acumulam no Brasil desde 2015 eram evitáveis, se por aqui a coisa fosse levada mais a sério, com respeito e responsabilidade. O pior disso tudo é saber, ter a certeza, a convicção de que isso não para por aqui. O Brasil falhou e segue falhando diariamente. Aos brasileiros, além de terem que suportar este peso, em meio a pequenas ilusões que são criadas por seus próprios governantes, fica a certeza de que por aqui não adianta esperar o melhor, ele não vem. E, a cada vez que ele não vem, fica a constatação: as marcas virão, de uma forma ou de outra. Seja na falta de saúde pública, de educação, de infraestrutura, de segurança… O Brasil falhou! A certeza de que será preciso fortalecer os ombros, pois o peso aumenta a cada dia.
