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Moral e ética: a eterna luta do bem contra o mal

by JORNAL AGORA

Marilena Chaui, a maior expoente da filosofia brasileira, no capítulo 27 de seu livro “Iniciação à Filosofia” (1), escreve:

Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e esposa doente, recebe uma oferta de emprego que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que beneficiem o seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?

Esta é uma excelente provocação para a discussão da moral e da ética. A moral, para o senso comum, é o “conjunto de valores e regras que definem o que é certo ou errado, permitido ou proibido em uma sociedade” (2). Em síntese, trata-se de normas de conduta e por isso mutável. Aquilo que uma determinada sociedade definiu, histórica e culturalmente, como devem ser nossas atitudes e sentimentos. Se respeitamos, praticamos o bem e somos moralmente corretos. Se não, caímos no campo de mal. 

Já a ética, pela mesma fonte, é  o “conjunto de princípios ligados à ação das pessoas que define quais ações podem ser consideradas corretas ou incorretas, dizendo o que é certo ou errado”. Então é o mesmo que moral? Parece, mas não é. Podemos dizer que a ética é a racionalização da moral. Diante de uma regra ou um valor moral, usamos a nossa capacidade racional de análise e, assumindo o papel de sujeito, emitimos a nossa opinião e nos responsabilizamos por ela. Para ficar mais claro: a moral é normativa, sendo cultivada ou imposta pela política, costumes sociais, religiões ou ideologias. A ética é reflexiva, representa a nossa opinião frente a um dilema moral. Assim, para ser ético, precisamos ter consciência e responsabilidade, adotando uma conduta que julgamos justa diante de um problema.

Então, voltemos ao pai de família desempregado. Moralmente, não é correto assumir um trabalho desonesto. Quando alguém age assim, inevitavelmente, irá prejudicar a outros. Se a moral permite este tipo de conduta para salvar uma família, ela coloca em risco a convivência dentro da sociedade. Por este motivo, o pai não deve aceitar o emprego.

A ética concorda com isso, porém quer ir adiante. Ela reflete sobre o dilema e tem seus questionamentos: porque uma família chega a esta condição? O pai é um vadio ou a sociedade não lhe dá condições de prover o sustento dos seus? Existem condições objetivas para que todos tenham acesso ao trabalho honesto? Quais os motivos da enorme desigualdade social? O que a sociedade tem feito para resolver este problema?

Em resumo, a ética não quer banalizar a relação de trabalho, mas não se acovarda diante do sofrimento dos outros. Ela instiga um debate na busca de uma solução, consciente que a sociedade precisa ser justa e abraçar a todos com dignidade. É como se a ética colocasse a moral em julgamento. Se a moral (costumes) pode mudar, a ética (reflexão) é permanente. 

E você, como se coloca diante deste dilema? Será que o problema se restringe às duas perguntas: Pode aceitar o emprego? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo? Se você achou interessante, acompanhe a nossa coluna aqui no Jornal Agora. Sempre nas 3ª feiras, a cada 2 semanas. Na próxima edição o assunto e: A busca pela beleza.

  1. CHAUI, Marilena de Souza. Iniciação à Filosofia. Editora São Paulo. 2017. Pag.313
  2. Google

Alberto Gigante Quadros

Médico / Pós graduado em Bioética pela Unesco 

Graduando em Filosofia pela UFSJ 

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