Musk é um Filibuster?
Domingos Sávio Calixto
A antiga plataforma Twitter (agora chamada “X”) de Musk é proibida na China, Rússia, Irã, Coréia do Norte, Nigéria, Mianmar e Turcomenistão.
O caso da China é emblemático. Lá, o tal Musk não dá palpite, não fala mal do governo, não fala do sistema eleitoral, nada. Ao contrário, adora posar em fotografias ao lado das autoridades da potência asiática.
É com esta hipocrisia que Musk construiu sua rendosa fábrica Tesla em Xangai, desde 2019, onde tira lucros exorbitantes em face da mão-de-obra barata e qualificada.
Musk é isso. Seria um “filibuster”?
Filibuster significa aquele mercenário que monta expedições milicianas (reais ou virtuais) para produzir um golpe lucrativo em determinado país.
Musk é seguidor da doutrina do “Destino Manifesto”, uma aberração teórica que ensina serem os EUA os responsáveis por levar “civilização” ao resto da América (Central e do Sul), com fins de sua anexação total. Uma palhaçada perigosa.
Parece que Musk também é admirador do primeiro filibuster que se tem notícia, um outro panaca milionário chamado William Walker (1824 – 1860).
Como filibuster, o objetivo de Walker era, inicialmente, conquistar a América Central e criar nela novos estados com leis escravistas, os quais seriam anexados ao sul dos EUA em ampliação à ideologia racista e escravagista americana. Um panaca legítimo.
Ora, em 1853 o tal Walker põe seu plano em prática e começa pelo México, levando e recrutando americanos – simpatizantes escravocratas – tentando no próprio México criar uma colônia americana, ou seja, roubar terras assim como feito com o Texas anteriormente.
Em território mexicano declarou-se presidente (pasme-se!) de uma nova “República da Sonora”. Não durou nem um mês. Houve resistência e o filibuster correu para os EUA, mas em desistir.
No ano seguinte eclodiu uma guerra civil na Nicarágua, envolvendo a esquerda do Partido Legitimista e a direita do Partido Democrata. A direita perdendo, foi buscar apoio do milionário filibuster.
Claro que Walker foi para lá defender a burguesia, em troca de vantagens financeiras prometidas a ele e aos EUA. Aliás, a direita sempre faz isto, negocia seu próprio país para se manter em regalias.
Walker chega à Nicarágua patrocinando sua milícia mercenária norte-americana, se junta à milícia paga pelos burgueses nicaraguenses e consegue assumir o poder.
Desta forma, o filibuster (se) assume como presidente da Nicarágua em julho de 1856, um dos momentos mais humilhantes para aquele país.
Empossado, o panaca agiu como filibuster. Mediante decretos, reestabeleceu a escravidão no país, fez do inglês a língua oficial, mudou a constituição, mudou a bandeira e chamou norte-americanos (sulistas) para imigrarem com promessa de terras. Não parou por aí. Confiscou todos os bens dos “inimigos” em favor da República, tudo para ser distribuído aos seus compatriotas.
Walker já estava dando andamento à anexação da Nicarágua aos EUA. Washington, inclusive, já havia reconhecido o governo do filibuster, mas, dois anos depois do golpe, houve uma reação de tropas de mercenários locais e o filibuster foi obrigado a deixar o país e correr, novamente, para os EUA.
Poderia se pensar que já era o bastante para o panaca desistir. Não. Os filibusters não desistem, pois acham mesmo que a América Central e América de Sul não passam de republiquetas de bananas facilmente conquistáveis.
Três anos depois da pantomima nicaraguense, Walker foi tentar uma nova empreitada colonizatória em Honduras. Lá, se deu mal. Foi fuzilado em 1860.
Portanto, Musk é também assim, mais um tipo de filibuster em relação ao Brasil. Na China, entretanto, é apenas um panaca.
domingosavio88@yahoo.com.br
